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sábado, 11 de abril de 2015

Lembanças

Querido quase-conhecido,
Peço perdão pela gafe que cometi nessa manhã de sexta-feira. Sinto muito ter te abordado dessa forma agitada e assustadora. Mas juro, que por mais que tenha descoberto nosso desconhecimento mútuo, por um momento eu reconheci na sua estranheza um velho conhecido meu.
Me fez voltar à infância. O cheiro de pipoca se alastrou pela minha memória, junto com as lembranças do seu aniversário de 5 anos. Nessa época nossas maiores preocupações eram como dividir os times da queimada.
Confesso que ainda guardo o mapa que você rabiscou em uma folha sulfite velha para que meus pais deixassem eu ir brincar na sua casa.
Me recordo como se fosse ontem o dia em dividimos o sofazinho da escola. Eu me sentei calada, e senti como se meu coração fosse alçar voo e se libertar como um pássaro. Foi aí que tomei a decisão de deixar de ser a donzela que espera educada e pacientemente pelo seu príncipe e resolvi dar a você a insegurança e o desastre do meu primeiro beijo.
Quando meus lábios imaturos tocaram suas bochechas rosadas, seus olhos cor de mel pareciam saltar de órbita, mas nenhum de nós ousou dizer uma palavra se quer. Ficamos ali, sentados no pequeno sofá amarelo. Ambos corados pelo acontecimento. Mas como todas as crianças, não fizemos disso grande coisa. Passados alguns segundo, já estávamos nos misturando aos nossos amigos na fila desajeitada que saía rumo ao recreio.
Bom, só tenho a te agradecer pelas doces lembranças, quase-conhecido. E mais uma vez, peço desculpas pelo erro que minha miopia me fez cometer. Meus óculos fundo de garrafa geralmente me protegem desses embaraços em que constantemente me meto, mas, apesar de seu rosto em forma  de um borrão me deixar duvidosa, seu andar e seu jeitinho me fizeram viajar no tempo.
 Assinado: Aquela que alguns anos atrás te
 reconheceria mesmo com seis graus de miopia

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